Olá.
Todos sabemos que actualmente o nosso país vive uma teórica crise. Crise essa que para muitas pessoas, não só é teórica, mas também é prática. E é verdade que existem muitas empresas que não conseguem sobreviver à actual situação económica do país. E existem outras empresas/pessoas que aproveitam-se da crise para engordarem financeiramente, e consequentemente servem-se da crise também para prejudicarem os seus trabalhadores com cortes nos benefícios, com o congelamento dos respectivos salários, etc.
No mundo pequeno onde estou inserido profissionalmente, e após uns anos de consultoria aqui e acolá, vou conhecendo pessoas que trabalham noutras empresas concorrentes da minha. E as noticias acabam por sair, de uma ou outra forma, cá para fora, circulando imediatamente de e-mail em e-mail. O que se segue tem a ver com comunicado que uma certa empresa fez, ao qual se seguiu a sua novela. Imagino os bastidores.
“Caros Colegas
O processo de avaliação chegou ao fim e o vosso Manager irá começar a dar-vos o retorno do mesmo em breve.
(…)
Como já tivemos a oportunidade de partilhar convosco, o mercado da consultoria tecnológica está, desde o início do ano, debaixo de uma forte pressão devido à crise que se sente de uma forma diferenciada nos vários sectores, com efeitos que vão desde cortes no investimento à redução das tarifas diárias, traduzindo-se no seu conjunto por uma forte pressão sobre as margens.Este cenário verifica-se desde Janeiro e não há vislumbre da sua data de fim.
A nossa empresa tem conseguido até agora manter-se nos objectivos acordados com o accionista, compensando a pressão sobre as margens, por uma redução nos custos a todos os níveis.
(…)
Neste contexto, devemos actuar com muita prudência, e por isso decidimos que não haverá aumentos de salários em 2009, além dos compromissos já assumidos.
Esta medida aplicar-se-á a todos os escalões hierárquicos e a todas as funções da organização.
Esta decisão não está de forma alguma relacionada com a qualidade do vosso desempenho, mais sim com a preocupação de manter a competitividade da nossa empresa no contexto de mudança profunda do nosso sector.
Em conjunto, temos de encontrar mecanismos de melhorar o nosso desempenho, e garantir que a nossa organização sai reforçada desta crise.”
Aqui está o meu comentário: Se a empresa tem conseguido manter-se nos objectivos acordados com o accionista, então para que se vai fazer cortes no investimento? Teria lógica cortar se os objectivos não fossem cumpridos. Não haver aumentos de salários em 2009? E novidades? E em 2008, 2007, etc? É o mal de todas as empresas. Depois querem profissionalismo, responsabilidades… E um espelho? Não querem?
E a contradição que fazem é de rir. Não é uma decisão relacionada com a qualidade do desempenho mas…tem de se encontrar forma de melhorar o desempenho. !?!?!?!? Alguém me explica isto?
E não fica por aqui. Segue-se uma novela de se lhe tirar o chapéu. Alguém escreveu um e-mail a dizer o seguinte:
“Boa tarde caros colegas,
Como gosto de partilhar o meu entusiasmo, informo desta forma que sou um dos glutões que vai "gozar" os lucros anunciados pela Direcção da nossa querida empresa. Por isso, brindem comigo :)
Glutão”
Isto é hilariante. Como é que é possível alguém ter o desplante de escrever um e-mail destes à gente trabalhadora? Acredito que seja alguém contrariado com a situação e a querer meter lenha na fogueira. Seguiu-se a respectiva resposta. Eu não conseguiria melhor.
“Caro Glutão,
Vejo o seu e-mail como muito inconveniente e desagradável, pois está a interferir com a anestesia cerebral que a nossa empresa pensa que inflige ao emitir os seus comunicados.
Calculo que esteja muito feliz, ou pelas obras nas instalações que lhe deram um gabinete, ou pelo carro novo que lhe atribuíram, talvez pelo contrato com a nova operadora que lhe "rendeu" um telefone dos "bonitos", ou um portátil novo quando você só usa o Excel, ou quem sabe se por todas essas variáveis juntas e mais algumas; agora, peço-lhe moderação, nós somos "consultores" e "staff", somos aqueles que trabalham com computadores ultrapassados, que andam com telefones de refugo, que andam meia-hora para estacionar o carro, que estão amontoados com 50 pessoas em espaços de 20, que trabalham em secretárias onde mal cabe um computador.... SOMOS AQUELES QUE NÃO SÃO AUMENTADOS QUANDO A EMPRESA APRESENTA LUCROS!!!
Espero que veja este e-mail de uma forma construtiva, de forma a manter a competitividade da nossa empresa neste contexto de mudança profunda do nosso sector.
A tua discrição é importante
O Proletariado”
Conclusão: as empresas devem ter muito cuidado com o que dizem e escrevem, pois as pessoas não são parvas nenhumas. Sabem sempre o que se passa através da “Rádio Alcatifa”, e não são alfabetas. Sabem fazer contas de cabeça, quando reparam nos lucros que as empresas têm nos finais de trimestres, semestres ou anos.
Por isso, mais vale não dizer nada. Os factos, simplesmente, falarão por si. Prefiram ser empresas cobardes escondendo-se das verdades, a falarem barbaridades, parvoíces e mentiras.
Carpe Glutões!
CARPE PROLETARIADO!